quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

14:33 a.m.



Na era em que os stocks não ficam mais nos armazens, a Música no Coração vai transformar «a Avenida de Lisboa» num verdadeiro «out and let» de bandas: directamente dos armazéns de ensaios espalhados pelo mundo para as salas da «Liberdade». O mapa está traçado: Cabaret Maxime, Teatro Variedades Parque Mayer, São Jorge e Teatro Tivoli. Um festival de Inverno onde a manta são as emoções e a lareira acende-se em cima do palco. O meu circuito está traçado. Hoje: Ladyhawke, Santogol e El Perro del Mar. Amanhã é dia de Likke Li, The Walkmen e, se o cansaço não for muito volto a aplaudir duas semanas depois os X-Wife. Tchim! Tchim!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Eles andam aí



Um vídeo de Bruno Canas e Carlos Godinho.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

This is... Berlin



Tive a sorte de ir em trabalho a uma das cidades que estava no «Top 10» dos próximos destinos que desejava visitar. Os balões coloridos e os cocktails bicolor de um puro invento da Disney, só poderiam estar dentro de uma sala de hotel, para não ofuscar a calma, a paz cinzenta e o silêncio das ruas da «cidade-erguida-do-destroço». Tinha grandes expectativas em relação a Berlim, senti-me bem. Há um cheiro a progresso e modernidade discretos, e uma cor cinzenta que não tem propriamente que ser triste. Corrigi essa minha ideia. Fiquei com vontade de voltar. Berlim não quer, de todo, apagar as marcas da História mas sim mostrar que seguiu em frente!

domingo, 16 de novembro de 2008

Quem tem medo de clichés?


Não há filme que não assente bem nas ruas de Paris. Não há personagens jovens, atraentes e irreverentes que não encaixem bem nos corpos mais que perfeitos de Louis Garrel, Michael Pitt e Eva Green. Juntamos aos lugares o tempo e temos «The Dreamers», o filme de Bernardo Bertolucci que encarrila num «h» maiúsculo e num minúsculo de história. Maio de 68 e a vivência de dois irmãos parisienses (Louis Garrel e Eva Green) e um amigo americano (Michael Pitt). A história que ora sai para as ruas, ora entra numa bolha de sabão: a casa dos pais de Théo e Isabele, que foram de férias e os deixaram entregues a todas as revoluções que estavam a acontecer nas suas vidas.
«Os miúdos de hoje, que tomam a sua liberdade como certa, não sabem que muito disso foi conquistado em 68». Bernardo Bertolucci
Ontem, tive o prazer de ir ao Estoril Film Festival ver a projecção de «The Dreamers» de Bernardo Bertolucci, antecedido por uma contextualização caricata de Louis Garrel e Michael Pitt.
«I love this film, it can hurt your career but i don’t care». Michael Pitt. Eu gostei deste filme, está cheio de clichés mas poderá o imaginário francês ser trazido à tela sem cigarros vermelhos? Afinal a palavra cliché é francesa e Paris arrepia-me!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Realizadores em revista

«Spike Lee: I think you love music more than cinema.


Martin Scorcese: [laughs] I think so. Music is the purest form, don’t you think?


Spike Lee: Would you agree with me that musicians are the greatest artists?


Martin Scorcese: Yeah, they’re the purest and the greatest. I mean, music totally comes from your soul. I just remember growing up with guitar music and jazz.
I would play these 78s that my father had in the ‘40s, and all these images came to mind. That’s the way I’ve always worked—listening to music and getting pictures from the music.»

in Interview

P.S.-«SL: Would you do the New York version of Roma?


MS: [laughs] It’s not a bad idea. I think I’ve been trying to do it, from Mean Streets [1973] and Taxi Driver [1976] to Raging Bull and Gangs of New York . . . The thing about it is, I’m obsessed with this city. I just find it so remarkable. You really treasure this city when you go to different countries and you see that there is no mix. When you get back to the city, it’s such an exciting place. New Yorkers, we walk in the street, we talk to ourselves. But the issue is the energy, the excitement, and the different ethnic groups all mixed together. We’re spoiled being here.»

[É ao folhear a publicação criada por Andy Warhol que encontro momentos tão saborosos como este e como o café que sopra o aroma do Domingo de manhã, numa esplanada, banhada de um sol que já só (a)parece como uma recompensa da semana de trabalho. Tão em Lisboa. Completamente em Nova Iorque. Não há revista com tanto cheiro a grande maça.]

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Anthony wears Prada



Quando as artes se unem, encontramos músicos como o Anthony que compôs notas para os tecidos sóbrios de Miuccia Prada. Peças únicas por pequenos e brilhantes pormenores. Combinam na perfeição!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

11:38 a.m.

"O estilo de Londres é ecléctico. Acho que deve ter a ver com o tempo. Obriga as pessoas a serem criativas. Quando está cinzento e desagradável é divertido vestires-te para te animares um bocado".
Alexa Chung, in ELLE inglesa.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Vem Brincar!!!


Feist - 1 2 3 4 (letra adaptada à série)

A Feist aprendeu como se vai... :)
O vídeo original deve ter sido um bom começo.


Feist - 1 2 3 4

Jacobs.Interview.Warhol



Fiquei deliciada ao ver a capa da Interview do mês passado. A criação revisitou o mestre Andy Warhol na pele de um dos maiores criativos dos nossos tempos Marc Jacobs. Uma fórmula muito bem calculada para celebrar o 80º aniversário da 'revista [ainda] fora do seu tempo'.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

domingo, 20 de julho de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Apresento-a



Bat for Lashes - Whats a girl to do

Fez a primeira parte do concerto de Radiohead, em Dublin. Trouxe-a também comigo.

domingo, 11 de maio de 2008

1:16 a.m.

"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn, like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes".
Jack Kerouac

quinta-feira, 8 de maio de 2008

quinta-feira, 1 de maio de 2008

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Partículas de pontualidade britânica

Abadia de Westminster
Nova Londres vista da Tower Bridge
"A" livraria - Nothing Hill
Camden Town
Picadilly Circus

Porque Londres existe...

... existe hoje uma Barcelona, uma Berlim ou uma Paris cosmopolita.

Saímos dos jardins de Buckingam, habitados por esquilos escoceses e patos franceses e fomos até Oxford Street, onde entrei num supermercado e comprei batatas fritas japonesas. Passei por Picadilly Circus, onde um paquistanês me entregou um dos muitos gratuitos que se distribuem diariamente na cidade. Atravessei China Town, onde fui calcada por uma senhora gentil que imediatamente me pediu "perdona" e caminhei parar a Garden State onde bebi uma cerveja holandesa, entre amigos italianos, até a noite chegar.
Londres nunca mais será só e dos ingleses. Gosto disso :)

domingo, 6 de abril de 2008

17:51

-Estou a ler o Admirável Mundo Novo. Tu conseguíste perceber aquilo no 10º ano. É uma utopia muito à frente.
- Eu via o Star Trek Next generation no 7º. Aquilo são amendoins em comparação com o Star Trek.

quinta-feira, 27 de março de 2008

New York, I Love You



MGMT - Time to pretend

1:40


















"
How can it feel, this wrong, from this moment".

terça-feira, 11 de março de 2008

Vamos repetir?

Sim, amigos, foi há um ano. Lisboa frágil de música, poesia e a primavera.
360º - desta vez, nú feminino.
Vamos repetir?

sábado, 8 de março de 2008

2:37

" Imagens que sabem descobrir, tão bem, o caminho do coração".
Michel Houellebecq

segunda-feira, 3 de março de 2008

Juno: “ Um rabisco que não pode ser desfeito”

Incrivelmente inteligente para a sua idade e cheia de respostas perspicazes na ponta da língua. Menina de trato irónico, olhar sereno e postura descontraída. Atributos que fazem parte do tudo que (pre)enche a pequena Juno de contradições. A mais recente: um bebé aos 16 anos. “ Um rabisco que não pode ser desfeito, minha”, diz o vendedor da loja onde compra mais um dos muitos testes de gravidez ( o incrível Riann Wilson).
Nada em Juno é esperado. Nada em Juno tem 16 anos. Nada em Juno reage com o tom de uma adolescente ‘acidentalmente’ grávida que tem que abrir um espaço cada vez maior com a barriga por entre a multidão dos corredores da escola. A descontracção que põe em tudo é a mesma com que numa tarde ‘de seca’ decidiu fazer sexo pela primeira vez com o seu melhor amigo Bleeker.

Não, não estamos perante mais um filme para adolescentes – suspiramos.

Juno não recorre ao aborto, os pais reagem aparentemente bem à confissão seguida de um comunicado sobre a certeza de querer dar o filho para adopção, tem a ajuda incondicional da melhor amiga e enfrenta de forma descomplexada a sociedade que lhe crava os olhos. Uma reacção associada à figura de menina forte e, quem sabe, ao ponto a que as coisas chegaram hoje em dia, um ponto estranho para muitos mas, sobretudo, livre. “Hello, I’d like to procure a hasty abortion”. Expressões que passaram a ser chamadas de junismos.

Nunca poderemos comparar Juno a um a A Little Miss Sunshine mas sabemos que a carrinha amarela do filme com mais sumo concentrado dos últimos tempos lhe abriu portas, lhe deu este lugar nos Óscares e sobretudo nas principais salas de cinema. Sabemos que Juno e Leah são uma espécie de irmãs (bem) mais novas de Thora Birch e Scarlett Johansson, em Ghost World, que tanto trabalharam a sensibilidade do espectador para filmes “dark and funny”: filmes fixes, com miúdas muito à frente (da sua idade), com vidas carimbadas por ícones que vão dos anos 50 aos 80. Um caminho também feito por filmes como Garden State, onde os parvos são gente apaixonante e com sentimentos bonitos. Tentativas mal concretizadas por muitos dos filmes de Domingo à tarde.
Mais que a última personagem representada por Ellen Page, Juno é a nossa nova amiga. Tem 16 anos e está grávida - como milhares de outras jovens – pensamos. E quê? Ela é a primeira a não querer dar ênfase ao pânico que pode haver nisso mas sim à sorte que pode estar à espreita em tudo o resto. Apesar de tudo e por mais que Juno apareça no ecrã como uma pequena guerreira de armadura de ferro não perdemos vontade lhe dar um abraço. Afinal é uma menina, tem 16 anos, esteve grávida e decidiu dar o filho para adopção.



Porque há noites em que dizemos:
-Vamos?
E nos respondem:
-Bora! :)

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

19:55

Apaguei as luzes. A cidade iluminou a casa pela janela.
O mundo apagou? Lisboa não.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Em 1932, o dia das mentiras foi a 5 de Julho

Rui Mendes cruza duas histórias de Almeida Garrett no mesmo hotel, em Lisboa: Falar a verdade a mentir e O noivado do Dafunto. O rádio explode num cenário de azuis e bordoux que nos leva até aos anos 30.
Shhhhhhh!!
- Salazar foi investido no cargo de Presidente do Conselho de Ministros.
Espanto.
- Salazar promete dias de felicidade.
Interrogação.
As personagens entram em cena e tudo pára, acende-se um holofote e disparam flashes. A peça está cheia de pormenores graciosos, bem encenada, representada com garra. Destaco as representações de Elsa Galvão e João Didelet. Garrett fica bem no teatro. Traz cor, paródia e famílias.

[…e famílias com putos…
que nunca viram, não querem ou não lhes ensinaram a ver nada mais além “da” cidade.
- Mãe onde é que se fala daquela maneira? (A propósito da pronuncia portuense do personagem de Elsa Galvão)
- É lá para cima, lá para Guimarães e Vizela…
Alguém quer morangos com açúcar?]


I.R. (Importante Referir) - A personagem diz em cena que acaba de chegar do Porto…

O homem que (também) faz t-shirts
















Nuno Markl a mostrar mais uma vez o quão é genial.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

0:59 e a ver os Grammys

Já tinhas apontado o dedo ao papel, ao papel aqui ao lado. Ou porque uma outra janela ficava laranja, ou porque a janela estava aberta, ou porque não sei porquê, acabei por não ir ver. Nunca sei se peço desculpa por estas coisas ou entendo que têm de ser assim.
Fui hoje, agora , apenas porque me lembrei.

Continua a trazer cor aos jornais de papel sujo que esvoaçam no metro mas nunca deixes de escrever os pedaços teus que vão nesse mesmo metro. Percepções nos minutos de cegueira que só a rotina diária dos transportes públicos, deliciosamente, nos dão.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Movimentos dourados de guitarra portuguesa

…a banda sonora do nosso país.

Quando se ouve um homem que fala tanto com a guitarra, imaginamo-lo um ser tímido que comunica sobre tudo com as mãos. Mas Carlos Paredes não é assim.
Movimentos Perpétuos, o filme documental realizado por Edgar Pêra sobre o guitarrista português, é a prova disso. A narração é feita por Paredes, através das longas conversas que tinha com os espectadores, nos seus concertos. O concerto no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984, é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, relatos marcados pela simplicidade e pela paixão. Falam-nos ainda amigos e conhecidos que fizeram parte, de uma forma ou de outra, da sua vida, que o descrevem como um homem simples, muito simples, de uma humildade exagerada, do seu “ ar de quem quase pede desculpa por existir”, de “ quem lamentava o passado nas suas músicas mas sempre com esperança no futuro.” A grande diferença entre as notas de Paredes e as de muitos fadistas ou artistas que retratam as pedras da nossa calçada, a esperança.
O trabalho e a precisão de Edgar Pêra são bons. A articulação entre a música que sai dos dedos desvairados de Paredes e a imagem é milimetricamente sincronizada. E o recorrer à impureza das imagens em Super 8 pertinente. Contudo, justificava-se um pouco menos do experimentalismo, às vezes quase perturbador, tendo em conta que o tributado é Paredes.
Sem dúvida, uma boa aposta do PANORAMA. Um documentário obrigatório (como outros tantos) para qualquer português, e que o facto de estar inserido em cartazes como este acaba por fazer desta uma óptima oportunidade para o vermos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Haverá Cinema

Ficamos alerta se ouvimos dizer que Paul Thomas Anderson escreveu e vai realizar um novo filme. Por Magnólia, Boggie Nights e Coffee & Cigarettes. Pelos fantásticos videoclips de Fiona Apple ( fast as you can, limp, paper bag, across the universe). Por exemplo.
Hoje fui ver Haverá Sangue, a última longa-metragem do realizador californiano. Mais que longa, grande. Mais que isso, muito. Um daqueles filmes que, acabados de ver, nos dá a sensação de termos visto cinema, daquele que é feito segundo as teorias e os mandamentos desta arte. Goste-se ou não da história com que conta História, dos julgamentos que tira sobre a evolução dos tempos e das lições sobre o comportamento humano (e supra humano). Eu gostei muito, mas reconheço que a análise do filme deve ser feita além disso.
Como para mim prestações de actores como Daniel Day-Lewis, felizmente, não são surpresa, não vou explicar o que fez e como fez. Vou guardar estas linhas para Paul Dano, o menino em quem reparei pela primeira vez naquele que foi, para mim, o melhor filme de 2006, A Little Miss Sunshine. O agora bem crescido actor. Uma representação intocável.
Gosto de ir ao cinema nos domingos de chuva. Gosto muito de ver a sala maior do cinema cheia para ver um filme como Haverá Sangue. Gosto de uma sala silenciosa que ri no timing perfeito. Os primeiros grandes elogios que uma grande obra (como esta) pode receber.Filmes como este fazem-nos sentir que se faz e vai continuar a fazer (bom) cinema. O tipo de descendência que parece garantir a continuação da linhagem.
Ele tão bem disse isto. E vocês?

P.S.- Uma chamada de atenção para a fulcral banda sonora.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Jornalismo de proximidade... por excelência(s).

Depois de tantas semanas a passar os olhos por notas na Visão sobre a "Estação do Calor" -viagem de três repórteres que, em nome da ecologia, percorrem terras sul-americanas- resolvi passar pelo blogue.
Que privilégio fazer jornalismo, assim. Um documentário dos novos tempos. Espectacular.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Eles já andam aí


O primeiro episódio da quarta série de LOST estreou no ultimo dia de Janeiro, no canal norte-americano ABC. Dos dezasseis episódios previstos, apenas foram filmados oito devido à já terminada greve dos guionistas. Após a exibição televisiva, o primeiro episódio foi, inevitavelmente, posto na rede e pôde ser descarregado pelos milhares de fãs que o esperavam por todo mundo.
The LOST are found. Enjoy! :)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

1:18 a.m.





















"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio - Cântico Negro.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

17:24

O Cubo.net

Californication - Can you always get what you want?

Californication - 2007

Acabei de ver o último episódio da série Californication.
Devo dizer que vi os doze episódios em muito pouco tempo. Como se de um livro se tratasse. As primeiras páginas foram-se entranhando e as seguintes desapareceram, em contagem decrescente, noite dentro.
Californication não tem nada de novo. É uma série sobre um escritor em crise, que vai de Nova Iorque para Los Angeles à procura das palavras que não encontra há sete anos, sem perceber que pelo caminho perdeu o amor da mulher.
Californication tem algo de velho. Um actor que um dia já nos fez companhia no grande ecrã: David Duchovny. Este, encarna Hank Moody, um personagem delicioso que marca o regresso do “american coolfatherfucker”. Uma mistura de “badmothafucker”, que vive rodeado de mulheres que facilmente descarta. De pai ‘cool’ e estremoso que nos delicia com a sua relação de amizade com a filha de doze anos, uma menina-promessa Rock Star. De companheiro arrependido, por ter deixado desvanecer uma relação de anos, que luta com uma retórica sublime contra o seu novo ‘rival’, que vive com a certeza que um dia vai voltar a ter o seu amor e a sua família reunida.
Um bom exercício de guionismo no que cabe à construção de um personagem tipo. Uma grande representação de David Duchovny. Só por nos ter dado a conhecer esta nova personagem (que me trouxe barrigadas de riso e que acabou com a seriedade extrema que punha em Fox Mulder), Californication já valeu muito a pena. E tendo em conta que o resto também não está nada mau. Eu, recomendo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Marie Antoinette & "the problem of a leisure"

Não posso esconder que tenho dedicado os últimos tempos a ver cinema perdido nos anos. Tenho tido surpresas tão agradáveis, momentos de película que me fazem perceber porque esta arte não desvanece. Há muito boa gente a trabalhar nela. Com paixão, com detalhe, com reinvenção, como tem de ser. Fica aqui uma parte da lista.

Marie Antoinette - Sofia Coppola - 2006

Marie-Antoinette: This is ridiculous.”
Comtesse de Noailles:
“This, Madame, is Versailles.”

Queria perceber porque Marie Antoinette foi um filme tão crucificado. Ao lançar a sua terceira longa-metragem, a jovem realizadora Sofia Coppola, até aí levada ao colo pela crítica, saiu de Cannes sem nenhum galardão.
França preparava-se para o 'tudo de bom’ que, supostamente, um filme que pretende retratar a vida de uma das suas rainhas pode trazer. Abriu o religiosamente protegido Palácio de Versailles à realizadora e à sua equipa e ficaram à espera de mais um enaltecer da nação.
Marie Antoinette é uma análise crua aos tempos da corte. Às regras e à crueldade que levaram uma menina austríaca de 14 anos a sair debaixo das saias do seu país-mãe, para selar um acordo entre nações. É o peso que Marie Antoinette não carregava no ventre. As regras que lhe apertavam o diafragma e se transformavam nos vestidos de Haute-Couture que pela primeira vez uma rainha vestiu. Os escapes de quem quis viver uma adolescência que começou, desde logo, a mostrar uma vida que se pretendia controlada por tudo e todos.
É também Sofia Coppola e as suas brilhantes fusões. O tempo das cortes com banda sonora rock’n’roll. Os planos das caudas dos vestidos, que arrastam na erva enquanto o sol nasce. O Silêncio e o esterismo dos protocolos. É as rendas, os leques, os sapatos e os bolos. Uma fusão rosa choque para muitos, principalmente para os franceses. Coisas que um sexto sentido, também, ajuda a perceber.
Se a narrativa é pobre? As cortes eram pobres. De espírito, de calor, de humano. “This, Madame, is Versailles.”

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

E não é que as correntes correm!

A propósito do desafio lançado pela Art’e Manhas no passado dia 18 de Novembro, “A quinta frase completa na página 161 de uma livro”, decidi entrançar as frases doas volumes à mão das pessoas que entraram na corrente antes de mim, e sugeri que os seguintes o continuassem a fazer. Foi ao ler o Crocodilo que percebi que a minha ideia foi descendo o rio. O resultado é este: “O riso é tribal. O Selvagem sobressaltou-se. Mas não sonhara. Quando fazia frio, as superfícies caneladas enchiam-se de água quente através de um mecanismo útil e engenhoso; mas durante quanto tempo a sociedade ocidental iria conseguir aguentar sem uma religião qualquer? E depois, é verdade, com certeza que aconteceu devido ao vinho. As linhas paralelas bem espaçadas e formas em L produzem o efeito mais tranquilo e estável.”

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sábado, 26 de janeiro de 2008

E se uma voz começasse a narrar a tua vida?

Stranger than fiction - 2006 -by Marc Foster

É normal que em tantos anos de cinema as estórias já tenham sido todas contadas. O cinema, cada vez mais, deixa de dar toda a importância ao fim dos filmes. O ponto mais alto do gráfico, o clímax, passa a ser assinalado no meio da linha. Um filme não passa só pelo “quê” mas por “como” contar - relembramos. Uma boa prova disso é a cada vez mais comum recorrência a títulos que revelam os filmes. Estou a falar, também, do brilhante retorno ao Western pelas câmaras de Andrew Dominik, pela pele de Brad Pitt e pelo rosto de Casey Affleck.

Contado ninguém acredita” (Stranger than fiction) é mais um filme sobre o quotidiano rotineiro a que muitos se rendem, sobre o despertar para o ‘viver a vida’, sobre a realização de sonhos. Um todo que só tem sentido se existir amor. Realidade para a qual o personagem desperta, quase sempre, sob ameaça de doença ou morte.

“Contado ninguém acredita” é um filme sobre Harold Crick (Will Ferrell) e o seu relógio. Sobre uma escritora brilhante (Emma Thompson, vénia) em crise. Sobre uma estudante de direito que desistiu do curso para mudar o mundo a fazer bolachas que aquecem o coração das pessoas (Maggie Gyllenhaal). Estes contam com a ajuda de um professor universitário de Literatura que nos tempos livres é nadador-salvador (Dustin Hoffman) e de uma ‘ajudante de escritores em crise de inspiração’ (Queen Latifah). Do rol de actores não nos podemos queixar, é verdade. Cinco estrelas para o grafismo e, claro, para a boa forma como este bolo é amassado. Quanto à história… se vos contasse, não acreditavam.

Que o cinema se faça de filmes como este.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008