terça-feira, 18 de dezembro de 2007

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Pelos caminhos de Portugal

Nas últimas semanas recebi a visita do Kai, o meu amigo Japonês. Devido à minha disponibilidade temporal nesses dias, foi possível viajar com ele pelo país e mostrar-lhe alguns dos belos recantos que temos.

Nunca pensei que Portugal fosse um país com o nome ainda tão presente na ilha nipónica. Desde pequeninos que os japoneses aprendem o nosso país nas aulas de historia devido à época em que o Japão esteve fechado ao mundo apenas mantendo relações com Portugal.

Foram dias maravilhosos em que passamos por Vila Verde (como não podia deixar de ser ;) ), Braga, Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Sintra. É sempre bom perceber as percepções de alguém que vê Portugal pela primeira vez, principalmente de alguém tão atento e sensível como o Kai.

É sempre bom fazer o paralelo entre a vila onde nasci e os seus dois mil habitantes e Tóquio. Perceber que na capital japonesa há um famoso cruzamento de passadeiras onde cada vez que o sinal fica verde passam cinco mil pessoas. Que andar de carro só é possível com GPS e outras coisas, tão naturais para eles, e que para mim mais pareciam saídas do dicionário dos absurdos. Dos bons, pois tenho uma grande fascínio pela cultura nipónica.

Ficam aqui alguns registos ‘fotográmicos’ desses belos dias pelos caminhos de Portugal.

8 a.m.


Tocam à campainha e a Bruna abre a porta.
Oiço ruídos estranhos e vou ver o que se passa. Quando chego a porta está a fechar-se.
-Bruna, quem era?
- Era o limpa-chaminés...

domingo, 9 de dezembro de 2007

[Na] Integra

"Na mercearia do bairro, forrada a prateleiras e com os preços numa caligrafia do antigo exame da quarta classe, o diálogo repete-se. O Sr. Manuel quer colocar a fruta num saco transparente e este dentro de um outro saco, de alças e opaco. Declino. O Sr. Manuel insiste. O Sr. Andrade, na sua exígua papelaria numa subcave, tem sempre saco para o jornal. Tal como o Sr. Manuel, trata-me pelo nome, conhece os hábitos, sabe ao que venho. Mas nem um nem outro fixam: Não ao saco!

Nas bombas de gasolina ? que mais parecem bazares ?, um pão com queijo embalado já rende um saquito. Compra-se um livro, ganha-se um saco. Um alfinete, outro saco. É a saga do saco. Experimente ir comprar umas meias. Diga que não quer saco, que as guarda no bolso ou na carteira. Será olhado de lado. Mas se recusar o saco porque já traz um de casa? Escândalo! Será olhado não de lado, mas de alto a baixo, visto como um sovina atoleimado pré-capitalista. Uma aberração.

O saco de plástico é um problema global, mas Pina Baush, nos anos 90, dizia que o acessório dos portugueses, a sua característica, era o saquinho. Antes do Natal em Outubro, do sistema de pontos e do dinheiro de plástico, este ícone do consumismo era raro. Lavava-se, dobrava-se e guardava-se numa gaveta da cozinha. Era estimado, tal como a embalagem de manteiga já vazia, reutilizada para guardar restos no frigorífico.

Agora não há restos. Só excesso. No hipermercado, os sacos estão aos montes, novos em folha e à borla. Depois, acumulam-se em casa, amarfanhados uns dentro dos outros. Quando já são demais, borda fora. Se for preciso ainda se compram sacos do lixo, sacos com fecho para congelação, sacos para cubos de gelo, etc. Duas mil toneladas de sacos de plástico consumidas anualmente em Portugal.

O saco de plástico é ubíquo. Serve para transportar compras, pôr o lixo, a roupa suja. Nos campos dá para fazer espantalhos e na neve até serve para esquiar. Mas também está nos rios e oceanos, pendurado nas árvores, pelos passeios, a entupir esgotos, a causar cheias, a rechear as barrigas de animais.

Práticos, leves e impermeáveis, são o símbolo da cultura de conveniência. Uma ilusão. Aparentemente baratos ? ou gratuitos para o consumidor ? custam milhões de barris de petróleo e apenas uma pequena fracção é reciclada. Aparentemente higiénicos, sujam a paisagem e as águas. Há mais plástico do que plâncton. Proporção de 6-1. Cada vez que uma ave ou um animal marinho procura alimento, é provável que ingira comida de plástico. Literalmente. Os sacos têm uma vida breve e uma morte longa. Em média são utilizados durante 12 minutos. Demoram centenas de anos a decomporem-se.

Sabe quantos sacos de plástico já usou ao longo de toda a sua vida? Milhares. Todos eles continuarão por cá muito depois de nós termos desaparecido.

Os sacos foram banidos, total ou parcialmente, na Austrália, África do Sul, China, Bangladesh, em vários países europeus e em algumas cidades dos EUA. Em Portugal, onde a poluição é uma preocupação para apenas 10 % da população ? enquanto que na Suécia é 58% ? a solução não será fácil, como demonstra o recuo do governo, que desistiu de cobrar uma taxa por saco, sucumbindo à pressão da indústria e das grandes superfícies.

Talvez uma taxa não fosse a melhor via. Existem outras, como as campanhas ou disponibilizar sacos reutilizáveis. Embora, diga-se em abono da verdade, na Irlanda, o saco-pago fez cair o consumo em 90 %. No supermercado aqui do bairro, onde os sacos «custam dinheiro», muitos clientes trazem os seus sacos de compras (expressão que caiu em desuso, tal como ir à praça de cesto). O preço do saco é baixo. Mas é suficiente.

Com ou sem as medidas do governo ou dos comerciantes, faça você mesmo. Não saia para a rua sem saco. E se alguém insistir, saque do seu saco. Se alguém escarnecer, responda com um sorriso. Pode ser de plástico."

Uma crónica consciente que retrata pontos que me incomodam, também,no dia-a-dia. Trazida ao papel por uma menina que gosto muito. No jornal onde mais uma vez o meu caro amigo fez capa. :)