segunda-feira, 4 de junho de 2007

Faíza Hayat no país do mundo

“Muitas vezes tentam adivinhar de onde sou e devo dizer que nunca acertam, ou melhor, acertam sempre: espanhola, italiana, grega, egípcia, marroquina, brasileira, indiana. Poucas vezes portuguesa. Talvez porque no fundo, somos todas essas nacionalidades e algumas mais.
Agora, olhando o meu pequenino espelho, vejo uma mulher que é o que vê e se calhar seria outra coisa se visse outro rosto. Quando era menina perguntava-me se as cores eram as mesmas que eu via para quem tinha os olhos azuis. Acreditava que o mundo seria mais bonito com um filtro azul ou verde.
Estou parada em Ayoun el Atrouss. Olho o espelho. Os companheiros revisam a bagagem, as amarras, a quantidade de água. Estamos a meio do caminho entre Nouakchott e Walata. A viagem é longa e gosto de saber com quem viajo. “Olá sou a Faíza”. Sorrio. “Olá” – digo-lhe -,“acho que já te conheço”. Guardo o meu espelho, acabo o meu chá e subo ao carro. O deserto, como um amante fiel, aguarda por mim.”
inNo país dos Mouros”, Faíza Hayat

Há anos que leio as crónicas da Faíza, na Xis e agora na Pública (ainda vai sendo o melhor que a revista tem). A Faíza é uma mulher a sério, daquelas que gostava, em parte, ser quando for grande. É bom quando chega até nós em papeis alguém que partilha as nossas paixões. A Faíza é apaixonada pelo mundo e por viajar nele, por ele, entre ele; é apaixonada pelos amigos, dos quais fala frequentemente; é apaixonada pelas palavras, pelas contradições, pelo devaneio, pelos pés a sentir a terra e a cabeça a sentir ar. E tal como eu é apaixonada por um dos meus grandes amores: Barcelona (onde vive, apesar de ser uma mulher do mundo). É uma mulher de paixões e disto tudo só não sou mulher, sou menina. É bom quando lemos alguém e parece que nos estamos a ler. É bom ler a Faíza que faz ser bom ler-me a mim também.

1 comentário:

Anónimo disse...

brilhante, pequena borboleta:)