terça-feira, 10 de março de 2009

A poesia de LOST


60 horas depois, cinco séries quase somadas e a «epopeia» LOST não perde a métrica. A Eneida dos nossos tempos continua a ser contada em episódios de 45 minutos. Passos que nos fazem acreditar que já sabemos muito e concluir que ainda não sabemos quase nada.
60 horas depois, os guionistas de LOST não param de dar sentido ao titulo da série e à sinopse que inicialmente parecia o maior dos clichés. Quem está na ilha está perdido, quem está em terra está ainda mais perdido, quem está no mar (re)encontra-se. «Perdidos no tempo e no espaço. Há lá coisa mais poética que isto?» Somamos frases como esta para tentar exprimir tudo que está a acontecer, quando sabemos que não há ninguém mais perdido que nós desde o primeiro episódio. A apanhar todas as sílabas para construir uma história, todos os sinais que nos são dados e que são tão ricos para criar provas, todos os símbolos para desenhar mapas. Há 60 horas que estamos assim porque queremos, e ninguém tem tido mais dores de cabeça, visto mais clarões e saltado mais no espaço e no tempo que nós. Sem nunca perder o alento.
O tabuleiro continua estendido, as peças não param de mexer, os guionistas não param de explicar o que vimos e o que vemos, enquanto acrescentam mais informação. Na tentativa, sempre tão bem concretizada, de nos tirarem certezas e de não nos darem o caminho certo. Sem nunca deixarmos de ter provas que em cada imagem, símbolo e gesto que fixemos e analisemos há uma explicação ou uma ligação seja a passagens bíblicas, à História, a teorias (d)e viagens no tempo ou a nada disso. Não paramos de escavar e de encontrar diamantes. E nunca saímos da ilha (desiludidos).
É ao afastamos as peças e os lugares do tabuleiro que encontramos o cerne de LOST e de qualquer grande narrativa. O amor humano de «H» pequeno e grande, com tudo que engloba.
Já não conseguimos viver sem o mau feitio do Sawyer (surpresa das surpresas), perdoamos Jack, achamos que a ilha nunca sobreviveria sem o coração enorme do Hugo e que a vida do John Locke não cabe numa série. O Daniel Faraday, «the time walker», parece-nos cada vez mais uma personagem genial e o Richard a mais intrigante de todas. Somos capazes de falar de cada um deles como se de amigos se tratassem. Pormenores que nos fazem ter a certeza que estamos dentro de uma grande história. Já não temos medo do que vem a seguir pois estamos conquistados e sabemos que vai ser extremamente bom. Descobrimos o livro que não faltará na nossa biblioteca, que marcará o início do nosso século e que certamente «abriremos» no ecrã e mostraremos aos nossos filhos e netos.
«Sempre soube que a nossa geração ia pegar em toda a vertigem de conhecimentos que adquirimos com o passar dos séculos e ia fazer coisas boas. Isto é só um bocadinho da fé. Ganhei o dia, maravilha». 

*Texto feito a partir de mensagens trocadas, sobre a série.