sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

19:55

Apaguei as luzes. A cidade iluminou a casa pela janela.
O mundo apagou? Lisboa não.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Em 1932, o dia das mentiras foi a 5 de Julho

Rui Mendes cruza duas histórias de Almeida Garrett no mesmo hotel, em Lisboa: Falar a verdade a mentir e O noivado do Dafunto. O rádio explode num cenário de azuis e bordoux que nos leva até aos anos 30.
Shhhhhhh!!
- Salazar foi investido no cargo de Presidente do Conselho de Ministros.
Espanto.
- Salazar promete dias de felicidade.
Interrogação.
As personagens entram em cena e tudo pára, acende-se um holofote e disparam flashes. A peça está cheia de pormenores graciosos, bem encenada, representada com garra. Destaco as representações de Elsa Galvão e João Didelet. Garrett fica bem no teatro. Traz cor, paródia e famílias.

[…e famílias com putos…
que nunca viram, não querem ou não lhes ensinaram a ver nada mais além “da” cidade.
- Mãe onde é que se fala daquela maneira? (A propósito da pronuncia portuense do personagem de Elsa Galvão)
- É lá para cima, lá para Guimarães e Vizela…
Alguém quer morangos com açúcar?]


I.R. (Importante Referir) - A personagem diz em cena que acaba de chegar do Porto…

O homem que (também) faz t-shirts
















Nuno Markl a mostrar mais uma vez o quão é genial.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

0:59 e a ver os Grammys

Já tinhas apontado o dedo ao papel, ao papel aqui ao lado. Ou porque uma outra janela ficava laranja, ou porque a janela estava aberta, ou porque não sei porquê, acabei por não ir ver. Nunca sei se peço desculpa por estas coisas ou entendo que têm de ser assim.
Fui hoje, agora , apenas porque me lembrei.

Continua a trazer cor aos jornais de papel sujo que esvoaçam no metro mas nunca deixes de escrever os pedaços teus que vão nesse mesmo metro. Percepções nos minutos de cegueira que só a rotina diária dos transportes públicos, deliciosamente, nos dão.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Movimentos dourados de guitarra portuguesa

…a banda sonora do nosso país.

Quando se ouve um homem que fala tanto com a guitarra, imaginamo-lo um ser tímido que comunica sobre tudo com as mãos. Mas Carlos Paredes não é assim.
Movimentos Perpétuos, o filme documental realizado por Edgar Pêra sobre o guitarrista português, é a prova disso. A narração é feita por Paredes, através das longas conversas que tinha com os espectadores, nos seus concertos. O concerto no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984, é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, relatos marcados pela simplicidade e pela paixão. Falam-nos ainda amigos e conhecidos que fizeram parte, de uma forma ou de outra, da sua vida, que o descrevem como um homem simples, muito simples, de uma humildade exagerada, do seu “ ar de quem quase pede desculpa por existir”, de “ quem lamentava o passado nas suas músicas mas sempre com esperança no futuro.” A grande diferença entre as notas de Paredes e as de muitos fadistas ou artistas que retratam as pedras da nossa calçada, a esperança.
O trabalho e a precisão de Edgar Pêra são bons. A articulação entre a música que sai dos dedos desvairados de Paredes e a imagem é milimetricamente sincronizada. E o recorrer à impureza das imagens em Super 8 pertinente. Contudo, justificava-se um pouco menos do experimentalismo, às vezes quase perturbador, tendo em conta que o tributado é Paredes.
Sem dúvida, uma boa aposta do PANORAMA. Um documentário obrigatório (como outros tantos) para qualquer português, e que o facto de estar inserido em cartazes como este acaba por fazer desta uma óptima oportunidade para o vermos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Haverá Cinema

Ficamos alerta se ouvimos dizer que Paul Thomas Anderson escreveu e vai realizar um novo filme. Por Magnólia, Boggie Nights e Coffee & Cigarettes. Pelos fantásticos videoclips de Fiona Apple ( fast as you can, limp, paper bag, across the universe). Por exemplo.
Hoje fui ver Haverá Sangue, a última longa-metragem do realizador californiano. Mais que longa, grande. Mais que isso, muito. Um daqueles filmes que, acabados de ver, nos dá a sensação de termos visto cinema, daquele que é feito segundo as teorias e os mandamentos desta arte. Goste-se ou não da história com que conta História, dos julgamentos que tira sobre a evolução dos tempos e das lições sobre o comportamento humano (e supra humano). Eu gostei muito, mas reconheço que a análise do filme deve ser feita além disso.
Como para mim prestações de actores como Daniel Day-Lewis, felizmente, não são surpresa, não vou explicar o que fez e como fez. Vou guardar estas linhas para Paul Dano, o menino em quem reparei pela primeira vez naquele que foi, para mim, o melhor filme de 2006, A Little Miss Sunshine. O agora bem crescido actor. Uma representação intocável.
Gosto de ir ao cinema nos domingos de chuva. Gosto muito de ver a sala maior do cinema cheia para ver um filme como Haverá Sangue. Gosto de uma sala silenciosa que ri no timing perfeito. Os primeiros grandes elogios que uma grande obra (como esta) pode receber.Filmes como este fazem-nos sentir que se faz e vai continuar a fazer (bom) cinema. O tipo de descendência que parece garantir a continuação da linhagem.
Ele tão bem disse isto. E vocês?

P.S.- Uma chamada de atenção para a fulcral banda sonora.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Jornalismo de proximidade... por excelência(s).

Depois de tantas semanas a passar os olhos por notas na Visão sobre a "Estação do Calor" -viagem de três repórteres que, em nome da ecologia, percorrem terras sul-americanas- resolvi passar pelo blogue.
Que privilégio fazer jornalismo, assim. Um documentário dos novos tempos. Espectacular.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Eles já andam aí


O primeiro episódio da quarta série de LOST estreou no ultimo dia de Janeiro, no canal norte-americano ABC. Dos dezasseis episódios previstos, apenas foram filmados oito devido à já terminada greve dos guionistas. Após a exibição televisiva, o primeiro episódio foi, inevitavelmente, posto na rede e pôde ser descarregado pelos milhares de fãs que o esperavam por todo mundo.
The LOST are found. Enjoy! :)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

1:18 a.m.





















"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio - Cântico Negro.