domingo, 9 de dezembro de 2007

[Na] Integra

"Na mercearia do bairro, forrada a prateleiras e com os preços numa caligrafia do antigo exame da quarta classe, o diálogo repete-se. O Sr. Manuel quer colocar a fruta num saco transparente e este dentro de um outro saco, de alças e opaco. Declino. O Sr. Manuel insiste. O Sr. Andrade, na sua exígua papelaria numa subcave, tem sempre saco para o jornal. Tal como o Sr. Manuel, trata-me pelo nome, conhece os hábitos, sabe ao que venho. Mas nem um nem outro fixam: Não ao saco!

Nas bombas de gasolina ? que mais parecem bazares ?, um pão com queijo embalado já rende um saquito. Compra-se um livro, ganha-se um saco. Um alfinete, outro saco. É a saga do saco. Experimente ir comprar umas meias. Diga que não quer saco, que as guarda no bolso ou na carteira. Será olhado de lado. Mas se recusar o saco porque já traz um de casa? Escândalo! Será olhado não de lado, mas de alto a baixo, visto como um sovina atoleimado pré-capitalista. Uma aberração.

O saco de plástico é um problema global, mas Pina Baush, nos anos 90, dizia que o acessório dos portugueses, a sua característica, era o saquinho. Antes do Natal em Outubro, do sistema de pontos e do dinheiro de plástico, este ícone do consumismo era raro. Lavava-se, dobrava-se e guardava-se numa gaveta da cozinha. Era estimado, tal como a embalagem de manteiga já vazia, reutilizada para guardar restos no frigorífico.

Agora não há restos. Só excesso. No hipermercado, os sacos estão aos montes, novos em folha e à borla. Depois, acumulam-se em casa, amarfanhados uns dentro dos outros. Quando já são demais, borda fora. Se for preciso ainda se compram sacos do lixo, sacos com fecho para congelação, sacos para cubos de gelo, etc. Duas mil toneladas de sacos de plástico consumidas anualmente em Portugal.

O saco de plástico é ubíquo. Serve para transportar compras, pôr o lixo, a roupa suja. Nos campos dá para fazer espantalhos e na neve até serve para esquiar. Mas também está nos rios e oceanos, pendurado nas árvores, pelos passeios, a entupir esgotos, a causar cheias, a rechear as barrigas de animais.

Práticos, leves e impermeáveis, são o símbolo da cultura de conveniência. Uma ilusão. Aparentemente baratos ? ou gratuitos para o consumidor ? custam milhões de barris de petróleo e apenas uma pequena fracção é reciclada. Aparentemente higiénicos, sujam a paisagem e as águas. Há mais plástico do que plâncton. Proporção de 6-1. Cada vez que uma ave ou um animal marinho procura alimento, é provável que ingira comida de plástico. Literalmente. Os sacos têm uma vida breve e uma morte longa. Em média são utilizados durante 12 minutos. Demoram centenas de anos a decomporem-se.

Sabe quantos sacos de plástico já usou ao longo de toda a sua vida? Milhares. Todos eles continuarão por cá muito depois de nós termos desaparecido.

Os sacos foram banidos, total ou parcialmente, na Austrália, África do Sul, China, Bangladesh, em vários países europeus e em algumas cidades dos EUA. Em Portugal, onde a poluição é uma preocupação para apenas 10 % da população ? enquanto que na Suécia é 58% ? a solução não será fácil, como demonstra o recuo do governo, que desistiu de cobrar uma taxa por saco, sucumbindo à pressão da indústria e das grandes superfícies.

Talvez uma taxa não fosse a melhor via. Existem outras, como as campanhas ou disponibilizar sacos reutilizáveis. Embora, diga-se em abono da verdade, na Irlanda, o saco-pago fez cair o consumo em 90 %. No supermercado aqui do bairro, onde os sacos «custam dinheiro», muitos clientes trazem os seus sacos de compras (expressão que caiu em desuso, tal como ir à praça de cesto). O preço do saco é baixo. Mas é suficiente.

Com ou sem as medidas do governo ou dos comerciantes, faça você mesmo. Não saia para a rua sem saco. E se alguém insistir, saque do seu saco. Se alguém escarnecer, responda com um sorriso. Pode ser de plástico."

Uma crónica consciente que retrata pontos que me incomodam, também,no dia-a-dia. Trazida ao papel por uma menina que gosto muito. No jornal onde mais uma vez o meu caro amigo fez capa. :)

3 comentários:

Anónimo disse...

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Bruna Pereira Ferreira disse...

Menina... Vamos chamar o nosso limpa-chaminés? Ele trazia um molho de sacos plásticos de asa com vassouras, vassourinhas e vassoirões... :D :D

Unknown disse...

Este post deixou-me também com o sentimento de agradecimento para com quem escreveu este texto..pela mensagem que traz e por apontar um dos pontos negativos que encontro neste executivo de José Socrates. Eu, que tantas vezes apoio este governo por algumas medidas tomadas que considero fundamentais para a evolução do país, não posso deixar de me sentir por vezes desiludido, com estes constantes recuos dos quais padece o governo quando confrontado com a crítica de alguns pseudo-intelectuais, e também com as pressões dos grupos empresariais associados a determinada medida adoptada, como é exemplo esta caso. Algumas vezes, os fins justificam os meios e se os portugueses não conseguem por, si só, aprender a reutilizar e essencialmente a poupar (não a carteira, mas o mundo) então que seja por intermédio de taxas (ou algo que lhe queiram chamar). Tenho a certeza que com isso se reduziria o desperdício de sacos de compras..ganhava o país (porque não dizê-lo, em impostos) e, acima de tudo, ganhava o ambiente.
Bjinho Inês!!
Hélder